Com o crescimento da terapia da Constelação Familiar, muitas perguntas sobre sua credibilidade foram surgindo. Será que a Constelação Familiar é uma ciência? Ela tem embasamento científico? Não sabe e ficou curioso? Então continue a leitura e descubra!
O que é ciência?
A Ciência, do latim “scientia”, significa “conhecimento“. Assim, refere-se ao sistema de adquirir conhecimento com base no método científico.
Segundo a definição de Aristóteles, a ciência é o conhecimento das causas pelas causas, ou seja, o conhecimento demonstrativo. Por isso, a ciência não se utiliza de suposições, mas da comprovação após a aplicação do método científico. Sendo necessários 3 componentes para caracterizá-la:
- observação;
- experimentação;
- leis.
A Teoria científica é um conjunto definido de elementos e princípios, com regras e equações que permitem prever como os elementos interagem entre si. Assim, um modelo científico é uma idealização simplificada de um sistema que possui maior complexidade. Mas que ainda assim, supostamente, reproduz na sua essência o comportamento do sistema complexo que é o alvo de estudo e entendimento.
Conceito da ciência para alguns estudiosos
Edgar Morin
Para Edgar Morin, um dos principais teóricos do campo de estudos da complexidade, é importante que a Ciência se utilize de teoria, metodologia, epistemologia etc.. E, principalmente que seja aberta para trocas e mantenha-se coerente.
A isso, ele chamou de “scienza nuova”. Assim, Morin incorpora à “scienza nuova” todos os componentes presentes no universo, mas excluídos pela ciência clássica, tais como o acaso, o individual e o acidente. Ademais, a “scienza nuova” não exclui a ciência clássica com seus princípios de ordem, separabilidade e lógica.
Edmund Husserl
A Fenomenologia de Edmund Husserl poderia ser considerada como um ponto médio entre o experimento e a teoria. Para Husserl, o sucesso do método científico consistia em conseguir estabelecer uma verdade. Isso, ele chamou de “provisória”, pois seria considerada verdade até o surgimento de algo novo que mostrasse outra realidade.
O que ele defendia era uma ciência transcendental dos fenômenos da consciência, na qual contrariava o ceticismo da comunidade intelectual da época.
O que é a Constelação Familiar e Sistêmica?
A Constelação Familiar e Sistêmica é um método psicoterápico criado pelo filósofo e teólogo Bert Hellinger. Essa terapia tem natureza fenomenológica e sistêmica, e promove mudanças psicológicas e curas de desequilíbrios mediante compreensão de emoções. Assim como tendências e energias acumuladas em campos morfogênicos.
Apesar de ter iniciado o desenvolvimento do método a partir de observações empíricas, como missionário católico na África do Sul, a Constelação Sistêmica não é uma técnica empirista ou subjetiva.
Hellinger publicou diversos livros em vários idiomas, inclusive em português. Portanto, esses livros foram baseados em exaustivos estudos de psicanálise e várias formas de terapias familiares. Bem como em sua longa experiência como terapeuta familiar, durante a qual pode observar a repetição de padrões comportamentais que influenciavam, principalmente, a saúde emocional dos membros da família, ao longo das gerações.
Os estudos sobre a Constelação
Esse fenômeno já havia sido observado pela psicoterapeuta americana Virginia, durante seu trabalho com o método denominado “Esculturas Familiares”. No qual um indivíduo, convocado a representar um membro da família, se sentia exatamente como a pessoa a qual representava. Muitas vezes reproduzindo, exatamente, emoções e até mesmo sintomas físicos da pessoa, sem nada conhecer a respeito.
Além disso, Levy Moreno também já havia observado fenômeno semelhante durante aplicação da técnica do Psicodrama, por ele desenvolvida. Assim, a Constelação Sistêmica também se utiliza do conceito da não localidade da Física Quântica e da teoria dos Campos Morfogenéticos, do biólogo Rupert Sheldrake.
Ele que, juntamente com outros biólogos holistas, propôs diversas pesquisas enfatizando a contextualização da biologia e das pesquisas relacionadas às ciências biológicas, psicologia, física, medicina e outras.
A ciência por trás da Constelação Familiar e Sistêmica
Hellinger baseou-se também na Análise Transacional, método psicológico desenvolvido por Eric Bern.
A teoria sistêmica do biólogo austríaco Ludwing Von Bertlanfy, segundo a qual, num sistema, existe dependência mútua de todos os componentes e de suas funções e cada parte está implicada no todo, de tal forma que qualquer exclusão irá gerar desequilíbrio nesse sistema, também, corrobora com a teoria de Constelações Sistêmicas.
Hellinger conseguiu esclarecer alguns pontos sobre a dinâmica da sensação de “consciência leve” e “consciência pesada”. E, a partir daí, propôs uma “consciência de clã” ou de “alma”, norteada por uma ordem que denominou de “ordens do amor”. Assim, demonstrando como inconscientemente podemos ser levados à repetição do destino de outros membros do grupo familiar, da mesma geração ou de gerações anteriores.
Ordens do amor
Segundo Hellinger, as ordens do amor são forças altamente dinâmicas e articuladas que seguem três princípios, como:
- a necessidade de pertencer ao grupo ou clã
- necessidade de hierarquia dentro do grupo ou clã
- e a ter o equilíbrio entre o dar e o receber nos relacionamentos.
Portanto, a desordem de pelo menos uma dessas forças manifesta-se em forma de sofrimento e doença.
A prática da Constelação Familiar
Na prática, numa sessão de Constelações Familiares, o constelado apresenta o tema que deseja trabalhar ou “constelar” . Assim, o terapeuta levanta informações sobre a vida de membros da família, como abortos, mortes precoces, suicídios, assassinatos, doenças graves. Além de casamentos e separações,quantidade de irmãos ou de filhos.
Em seguida, solicita-se ao cliente que escolha, entre voluntários, algumas pessoas que irão representar familiares e ele próprio, que serão posicionados da forma que o cliente descreveria as relações entre eles.
De acordo com maneira que os representantes reagem e se relacionam o terapeuta percebe a dinâmica oculta e dirige a cena montada pelos representantes. Com isso, ele irá buscar montar uma cena de solução, com os representantes em harmonia e o sistema em equilíbrio.
Aplicações
Atualmente, existem várias aplicações de Constelações Sistêmicas. Além do grupo familiar e profissional, também há grupos étnicos e outros, trazendo muitos esclarecimentos no campo das relações humanas e culminando em melhoria de relações familiares.
Assim, há a melhoria de relações interpessoais e profissionais em empresas, além da melhoria de relações em ambiente educacional.
Onde a Constelação de Bert Hellinger é aplicada?
Essas diversas aplicações práticas do método de Constelações Sistêmicas acabaram por desenvolver metodologias derivadas, como constelações familiares, constelações organizacionais e pedagogia sistêmica.
Há aproximadamente um ano, a prática de Constelações Sistêmicas foi incluída no nosso Sistema Único de Saúde (SUS) como parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.
Ademais, o Brasil também foi pioneiro no uso das Constelações Familiares pelo Judiciário, que atualmente abrange 16 estados Brasileiros. No caso do judiciário, o uso tem a finalidade de conciliação. E há indícios de aumento significativo nos índices de conciliação. Especialmente na área de família, em processos judiciais de guarda de menores, alienação parental, pensão alimentícia e inventários.
Conclusão
Como ainda é uma abordagem relativamente recente e não existe conclusões em estudos científicos, muitas vezes a Constelação Sistêmica ainda é confundida com algo puramente místico. Porém, como foi colocado anteriormente, Hellinger se baseou em diversos estudos e trabalhos científicos.
Se a Constelação Sistêmica é ciência, pode ser uma questão ainda polêmica. Mas seguramente se encaixa no modelo fenomenológico de Husserl. Que contrariamente a todas as tendências no mundo intelectual de sua época, lutou para conseguir que a filosofia tivesse as bases e condições de uma ciência rigorosa.
De acordo com a fenomenologia de Husserl, todos os fenômenos do mundo devem ser pensados a partir das percepções mentais de cada ser humano.
O artigo acima foi escrito por Elenice Ramthum Arganaraz, exclusivamente para o nosso blog Constelação Clínica.