Constelação e RelacionamentosConstelação Familiar

Eutanásia: uma visão para a Constelação familiar

A eutanásia se mostra uma medida sensível a ser tomada por uma pessoa e gera um debate prolongado a respeito do que fazer com o destino de alguém. Contudo, talvez você não saiba que essa discussão em torno do o fim da vida  impacta diretamente o campo familiar. Vamos entender melhor como a Constelação familiar enxerga essa ação na vida de todos.

O que é eutanásia?

A eutanásia indica a morte antecipada e induzida de uma pessoa motivada pelo sentimento de piedade a esse indivíduo. Com isso, em vez de deixá-lo sofrer mais em seu estado de angústia, os médicos, com o consentimento da família, anteciparão o processo. É como se pessoas pudessem agir sobre a morte, controlando o tempo em que ela vem a acontecer.

Esse processo ocorre com pessoas em estado de grave sofrimento onde a morte provocada coloca um fim nisso. Além do forte sofrimento, doenças incuráveis ou estado terminal também são requisitos comuns para que haja a aprovação do procedimento. Contudo, se a doença for curável e a ação for aplicada, o ato será considerado um homicídio de acordo com o art. 121 do Código Penal.

Existem três tipos de eutanásia, isto é, maneiras distintas de chegar ao mesmo fim. Diferente da eutanásia padrão, a distanásia acaba por prologar o sofrimento do indivíduo na intenção de aplicar alguma cura vindoura. Além desta, a ortonásia deixa a morte acontecer em seu curso natural, quando o processo já se iniciou.

A eutanásia na Constelação familiar

A Constelação familiar carrega uma perspectiva pessoal em relação a postura e ato de morrer. Por meio da terapia é possível levantar temáticas que resgatam a história desse ente querido que precisou partir condicionado. Nisso, segredos, perdas, feridas e exclusões podem ter esclarecimento para a melhor condução do relacionamento familiar no futuro.

O próprio Bert Hellinger, pai da Constelação Familiar, associa esse evento com as histórias de fantasma que assombram uma residência de forma pertinente. Nesses relatos, é comum interpretar que essa pessoa enquanto viva foi negada e retirada do seu sistema original. Com isso, sua “presença” vai perturbar o sistema familiar até que seja conduzida a um lugar onde sua existência caiba.

Por fim, esse ser “excluído” somente descansará quando o que foi deixado de lado tenha um espaço confortável para permanecer. Quando isso acontecer, ele vai parar de se reivindicar, permanecendo em paz e respeitando o seu lugar e a vida de quem permanece vivo. Essa paz pode ser alcançada quando a situação for trazida à tona e todos puderem se reconciliar.

Ritual de passagem

O ritual de passagem na eutanásia se mostra como uma reconhecimento sobre tudo aquilo que já se foi. Por meio de uma presentificação, os mortos são celebrados para que eles, assim como os vivos, possam alcançar sossego. Dentre as formas de honrar os que se foram e fechar o ciclo de sua existência física, se destacam:

Enterro

Os mortos são colocados em solo para que dali a vida possa florescer de outras formas. Claro, biologicamente os compostos de seus corpos acabam por revitalizar o chão onde repousam. Entretanto, o ato do enterro e sua celebração levantam o respeito por quem partiu e destacam sua importância.

Cremação

A cremação se mostra como o processo de “des-criação” de alguém, reduzindo seu corpo às cinzas. O propósito para alguns é liberar a essência desse indivíduo para que encontre o seu verdadeiro lugar.

Mumificação

A mumificação acaba por preservar o corpo do indivíduo como forma de tornar a sua presença física permanente. É mais comum em algumas culturas do que em outras, o que explica a surpresa de muitos em relação a esse ritual de passagem. Mesmo que já tenha partido, sua existência fica neste plano de algum modo.

Cultura

Bert Hellinger era defensor dos rituais de passagem para aqueles que partiam, incluindo sob a eutanásia. O mesmo sempre defendeu a importância de honrar os antepassados e outros membros como forma de reverenciá-los. A exemplo, o simples ato de acender uma vela para encaminhar a pessoa falecida pelo caminho da luz.

Na origem da Constelação, Hellinger falou sobre o ritual da tribo Zulu onde desenterram o morto após 1 ano de sua morte. Na cerimônia, pegam um galho e imaginam que esse ente está sentado sobre. Com isso, resgatam a sua presença ao lar novamente, reservando um lugar para ele.

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    Os japoneses também carregam seus ritos e crenças a respeito da morte. Eles constroem altares para os seus mortos como uma maneira de demonstrar respeito e honra por suas existências.

    A perda para a vida

    Na Constelação familiar a eutanásia entende a perda do indivíduo como uma passagem do morto e dos sobreviventes. A ideia é que todos possam retornar ao ciclo de vida comum, reconhecendo que a morte pode trazer a vida. Por isso que encontrar o equilíbrio aqui é um processo complicado a ser conquistado pela família.

    Sobre a ideia de morrer, muitos defendem que isso ajuda na construção de um plano para a vida. A ideia da sorte, sem que esta nos aprisione, pode servir de impulso para procurar uma vida boa. Com isso, a valorização da vida pode ser encontrada quando a ideia da morte é dar passagem para que os outros vivam.

    Indo na contramão, a continuidade da existência ajuda na hora de partir em sossego. Quanto aos que ficam, estes precisam encontrar a confiança necessária para que continuem com suas rotinas e verem a transformação da dor. Nisso, a saudade resgatará as vivências, misturando impressões tristes com as mais felizes, indo do choro ao riso.

    A necessidade do luto com relação à eutanásia

    Após a eutanásia, a dor se multiplica, tanto pela partida do ente querido, tanto pela forma como isso aconteceu. O processo de luto e dor envolvidos servem para que possamos nos distanciar de quem se foi. Mesmo que eles tenham partido, tudo o que nos deixaram continua a atuar sobre nós.

    É preciso que tomemos essas entregas nas mãos e agradecemos a quem nos deu isso. Assim, deixamos que o passado fique em seu lugar e possamos prosseguir guardando os ensinamentos em nossas almas.

    Os pilares do luto

    Feita a eutanásia, é de observar os pilares do luto para que essa fase seja vivenciada adequadamente. Isso serve para que nenhuma questão fique em aberto e alimente sofrimento a quem ficou aqui e/ou quem já partiu. Por isso que se deve:

    • Reconhecimento do luto;
    • Movimento de reação à separação;
    • Reviver os momentos com a pessoa que partiu, se recolhendo;
    • Desligamento de relacionamentos antigos;
    • Reajuste com a nova realidade;
    • Investimento de energia em novos relacionamentos.

    Considerações finais sobre eutanásia

    Não é fácil para quase todo mundo quando a opção para o alívio de alguém que amamos é a eutanásia. Alguns se sentem como cúmplices de uma morte, carregando essa mágoa sobre si mesmos ao resto da vida. Contudo, é preciso olhar para a situação de maneira mais sistêmica para entender onde isso se encaixa.

    Tenha em mente que esse procedimento visa a libertação de alguém sob um estado profundo de dor onde a vida é refém. Caso esta passagem seja necessária, é preciso o respeito com o momento e com a herança que ele deixou. Esse, junto a outros elementos, vai ajudar na construção harmônica da existência em seus respectivos planos.

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