Tive a oportunidade de estudar mais do que meus pais, isso acontece com a maioria da população. O que por vezes acontece é culparmos nossos pais por não serem pais que incentivam. Pais que não dão incentivo aos estudos do filho.
Claro que este incentivo ao estudo é importante, e a Constelação Familiar vai defender esse aspecto como parte do processo dos pais estarem presentes.
Por outro lado, agora que estou tendo a chance de me formar no Curso de Constelação Familiar e Sistêmica, percebi que existe um outro lado. Não é razoável culpar indistintamente os pais pela falta de incentivo ao estudo dos filhos, já que muitas vezes a visão de mundo deles se compõe de princípios e valores diferentes da nossa visão de mundo.
Minha mãe não teve nenhum incentivo ao estudo
Meus pais completam 30 anos de casados esse ano. Nesse tempo, a condição financeira deles foi de altos e baixos, mas a origem dos dois são de famílias pobres.
Minha mãe é a mais nova de 6 irmãos, todos os outros homens. Desde muito pequena teve que ajudar na limpeza da casa e no mercado de meus avós. Por ser mulher, nunca teve incentivo ao estudo.
Porém o estudo era muito importante para ela. Assim, chegava a se esconder no mato para poder estudar para as provas.
Fez curso técnico em administração e passou na UFSC em artes visuais. Como teria que se mudar para Florianópolis, meus avós a proibiram de estudar. Hoje, ela trabalha como decoradora de festas infantis e sente-se muito realizada profissionalmente. Mas, carrega a frustração de não ter feito uma graduação.
A perseverança no estudo, rendeu frutos ao meu pai
Meu pai nasceu na zona rural da Serra Catarinense. O mais novo dos irmãos. Andava 10km para chegar na escola, de pé no chão, mesmo nos dias de geada e neve. Só ganhou seu primeiro calçado aos 9 anos. Por outro lado, minha avó paterna fez questão que todos os filhos estudassem.
Como a escola só ia até a quarta série onde moravam, meu pai com 11 anos, assim como os outros irmãos, foi entregue a uma tia, no litoral. Os outros voltaram quando completaram a oitava série. Meu pai nunca voltou. Ou seja, foi o único a se formar numa faculdade.
Cresceu com duas primas e as tem como irmãs. Em uma constatação que incluía meu pai, mostrou que ele não se sentia pertencente a sua família de origem. Mas também sabia que não pertencia, como filho, da família da tia. Então, fizemos um movimento para ele aceitar o seu destino.
Ocupando o lugar de minha mãe
Já me constelei várias vezes e foram alinhados vários emaranhados que nós tínhamos. Eu trouxe comigo o posicionamento dos meus avós maternos, que mulher não deve estudar. Então entrei em conflito, por muito tempo, com o meu feminino. Assim, eu estimulava o meu racional e escondia meu emocional.
Neguei-me a sair do campo do meu pai e voltar para o campo de minha mãe ao ponto de que, ao olhar para ela na constelação, não possuía vínculo algum. E nem ela me reconhecia como filha.
Ficou mais claro com os movimentos seguintes e percebi que eu estava fazendo o papel de mãe dela. Quando eu tinha 12 anos, ela entrou em depressão profunda.
Assumir o papel de outrem significa abandonar a sua própria história
Eu assumi a casa e minha irmã mais nova tinha apenas 5 anos na época. Por muito tempo, foi eu que cuidei das duas, principalmente emocionante, e esqueci de mim. Há dois anos eu entrei em depressão. Mas, ninguém da família aceitou.
Afinal, a “mãe” não poderia ficar doente. Apenas ao alinhar meus pais no seus devidos lugares, através da constelação, é que houve a aceitação da minha doença. Assim, pude iniciar o meu processo de cura.
A influência dos pais na nossa vida
Sei que meus pais não tiveram um bom relacionamento com suas mães. Cada um teve seus problemas. Eu só repeti, ao meu jeito, a negação da mãe, que eles também fizeram. Assim, eles tentaram compensar tornando-me ora a mãe ora a filhinha do papai, por não retornar ao campo de minha mãe.
No dia seguinte a uma constelação que trouxemos à luz a relação de filhinha do papai, meu pai me ligou furioso. Brigou comigo como se eu fosse uma criança pequena, mas eu consegui assumir o meu adulto e respondi como tal, resolvendo o problema.
Semanas depois, percebi que as atitudes que antes ele tinha comigo, passou a ter com a minha filha de 10 anos. Assim, não direcionou mais ações infantilizadas para mim.
A mágoa pelo não incentivo aos estudos e as relocações familiares
Minha mãe possuía uma grande mágoa da minha avó, já falecida. Um dos motivos era pelo não incentivo ao estudo. Após um tempo da constelação, ela me disse “Eu entendo o que minha mãe fez, perdôo, mas não sinto saudades.” A partir daí, a relação com ela melhorou muito. Hoje consigo me ver melhor.
Mas trabalho com frequência o meu impulso de cuidar dela e de minha irmã, como se elas fossem crianças. Por mais que as atitudes delas, às vezes, indiquem isso, sempre me coloco no meu lugar.
Não as julgo e as trato como adultas que dão conta da vida. Então, percebo que elas voltam para o seus lugares também como adultas. Elas nem mesmo sabem sobre as Constelações.
Conclusão
Por tudo isso, eu percebi o quanto é importante eu assumir o meu lugar de adulta. Respeitar o destino dos meus pais. Perdoar o não incentivo ao estudo, outras coisas que aconteceram e virão a acontecer entre nós, é essencial. Só assim poderemos evoluir como pessoas.
Você também acha que o estímulo ao estudo é crucial na vida de um ser humano? E qual a importância de pais que incentivam os estudos dos filhos? Conte pra nós as suas vivências e pergunte a respeito de algo que tenha lhe causado dúvida.
Este artigo foi criado por Janine Maccari, exclusivo para o site do Curso EAD de Formação em Constelação Familiar e Sistêmica (inscreva-se). A Formação irá agregar na sua trajetória pessoal e profissional. Qualquer profissional que lida com pessoas pode fazê-lo. Como constelador, você poderá trabalhar com casais ou oferecer tratamento individual.