Eventualmente somos levados pelo cinema a refletir sobre nossos próprios destinos a partir de obras que expõem a humanidade em nós. Esse é o caso do filme “Uma família de dois”, um misto de comédia e drama sobre uma família de duas pessoas. Faremos um resumo desse longa, expondo as suas diversas camadas sobre o tema.
Sobre o enredo
Em “Uma família de dois”, vemos Samuel aproveitando a sua solteirice até descobrir que tem uma filha bebê. Um de seus muitos casos passageiros, Christine, surge inesperadamente com a garota no colo para lhe dar a notícia. Feito isso, a mulher desaparece sem oferecer qualquer possibilidade de escolha para Samuel.
Determinado a encontrá-la, o homem viaja com a criança atrás da mulher. Mas ele se descobre sozinho em um país distante. Sem ter para onde ir, acaba aceitando um emprego, investindo todo o seu esforço para cuidar de Glória, a criança. Ainda que sua vida tivesse dado uma reviravolta, conseguiram juntos construir seu próprio nicho familiar.
As coisas se complicam quando, anos mais tarde, Christine retorna e busca manter contato com a filha. Desse ponto em diante, o filme muda seu tom, explorando as diversas faces que uma família pode enfrentar nos momentos ruins. A vida do pai e da criança encontram caminhos desafiadores para provarem que merecem estar juntos.
Ajustes
Ao longo do filme “Uma Família de Dois”, presenciamos o amadurecimento de Samuel tanto como pai quanto como homem. Se antes ele era uma pessoa irresponsável e impulsiva, depois passou a tomar todos os cuidados em prol da criança. Por conta dessa preocupação, ele cria um ambiente fantástico em casa para que ele e a garota pudessem ter uma boa vida.
O esforço do protagonista em criar esse ambiente lúdico visa colocar a filha numa realidade em que a menina pode ter tudo. Dessa forma, ela não precisaria de uma mãe. Ainda assim, essa é uma questão que, gradativamente, Glória começa a questionar. A criação dessa atmosfera também é um meio do próprio Samuel fugir da carga negativa do mundo que acumulou até ali.
Ademais, a carreira de dublê seguida por ele se torna um atrativo financeiro, além de promover a sua interação com a menina. Por causa dele, Glória se ausenta bastante do colégio para acompanhar o pai no trabalho. Embora seja pequena, ela é bastante inteligente. Ela inclusive percebe o esforço feito pelo homem para ser o melhor pai.
Composição
O tom do longa “Uma família de dois” vai mudando no decorrer do tempo, deixando de ser uma comédia para se tornar um drama. No fim do filme, podemos fazer reflexões pertinentes sobre como as famílias em suas diversas formas passam por situações difíceis. Nesse caso, reflete-se por exemplo sobre:
- paternidade solo;
- educação;
- responsbilidade;
- diversão.
A paternidade solo
Como dito no texto, Samuel soube da filha quando ela já era um bebê, não participando da gestação da garota. Ou seja, ele não teve o tempo comum de preparo que se leva para assumir a função importante da paternidade. Assim, ao acompanharmos o crescimento de Glória, passamos a acompanhar o dele também como homem e pai.
Educação
Quando se é mãe ou pai solo, a educação dos filhos se torna algo ainda mais delicado por exigir a sua participação. Note que Glória mal ia às aulas para que pudesse acompanhar o pai no estúdio, algo que privilegiou o contato entre eles. Mais uma vez, o homem precisou tomar decisões que beneficiassem em primeira mão a criança.
Responsabilidade vs diversão
O filme aborda uma questão pertinente quanto ao profundo amor de pai e filha: a responsabilidade. Samuel se empenhou da forma como podia para que o peso das suas escolhas não caísse sobre a criança e debilitasse a sua saúde ou atrapalhasse a sua infância. Ainda assim, mesmo que a vida que levassem fosse uma aventura cotidiana, isso não manteve longe o peso da realidade.
A ausência não afeta apenas os filhos, mas também um dos pais
É importante notar a discussão a respeito da ideia de família que vemos em “Uma Família de Dois”. Desde o início, alguns pilares são quebrados, como a escolha de Christine em não querer assumir o papel materno.
O sumiço da mulher não afetou apenas a forma como Glória foi criada, mas também dificultou a vida de seu pai. Quanto à menina, a ausência criou um vazio que impossibilitou a vivência da dualidade ampliada por duas figuras adultas. Já no tocante a Samuel, Christine não deu qualquer chance de ele se preparar, fazendo com que ele tivesse de educar a filha enquanto se educava.
Graças a isso, o homem se tornou um pai bastante protetor, especialmente quanto à saúde da garota. Esse é um exemplo perfeito do poder que a ausência de alguém pode ter na construção da família.
A imagem da família não possui apenas um rosto
O desenvolvimento de Samuel e Glória não seria tão possível se não houvesse uma rede de apoio desde o início. Assim como na vida real, por vezes, as famílias em diversas estruturas recebem ajuda para que possam se desenvolver. No caso do filme, Bernie, que viria a se tornar um grande amigo, consegue o emprego de dublê para Samuel e ajuda na criação de Glória.
Quando pensamos na postura de Bernie, o amigo da família, notamos o quanto é importante ter:
Suporte
Assim que chega em Londres, após muita recusa, Samuel aceita a proposta de trabalho ofertada por Bernie para ser dublê. Bernie não apenas abriu uma porta de emprego, como também apoiou a educação de Glória. Quando trazemos isso para a vida real, percebemos o quanto ter suporte de uma rede de apoio faz diferença para um tipo familiar.
Direcionamento
Samuel teve de aprender da forma mais difícil a ser pai, indo pelo caminho mais longo do duro aprendizado. As coisas só puderam ser mais leves gradativamente graças aos novos amigos que fez após conhecer a sua filha. Da sua própria maneira, cada um contribuiu para mostrar caminhos e possibilidades para que desafios cotidianos fossem vencidos.
Aprendizado
Além de contribuírem para facilitar a vida de Samuel, os amigos dos protagonistas passaram por lições diárias ao acompanharem a jornada da nova família. O modelo familiar que o pai e a menina construíram trouxe dinâmicas diferenciadas que acabaram interferindo na rotina de alguns. Felizmente ou não, os mais próximos puderam conhecer uma realidade com questões muito pessoais e necessidades únicas.
As mães solteiras
Para Glória, a sua mãe era uma espiã secreta, o que lhe foi dito por seu pai. Acontece que Christine estava sumida desde que abandonou a criança, informação que ele escondeu da filha. A fim de que Glória não sentisse a rejeição, ele criou uma falsa história para justificar a ausência. Ele inclusive se passava por Christine quando a menina se correspondia com a mãe.
Enquanto isso, podemos ver a paternidade positiva do personagem se contrapor à realidade das mães solo. Como deve imaginar, criar filhos sozinhos é um desafio grandioso e que muitas pessoas têm dificuldade em fazer. Existem aquelas poucas que desistem, as outras dão o máximo que podem para dar aos filhos o que não tiveram.
Christine é uma personagem que permite que o filme aborde os conflitos vividos pelas mulheres que se deparam com a realidade da mãe solo. Assustada, confusa e sem apoio, ela decidiu privar a filha de um futuro incerto do qual não tinha perspectivas.
O crescimento das pessoas
Uma das maiores mensagens mostradas no filme “Uma família de dois” é a transformação que os personagens experimentam. Existe um caminho de amadurecimento em tamanha profundidade que nos leva a repensar valores da vida. Isso acontece principalmente na vida de Samuel, que abandona por completo a sua forma irresponsável de se posicionar na vida.
Considerações finais sobre o filme “Uma família de dois”
“Uma Família de Dois” é uma dramédia cuja proposta principal é mostrar configurações distintas da família. Assim, entendemos como o cotidiano traz ensinamentos valiosos que contribuem para o nosso autoconhecimento e a nossa ressignificação pessoal.
Certamente o filme é uma oportunidade de refletir sobre alguns laços valiosos da vida que geralmente ignoramos. Ele também é uma chance para termos respeito, admiração e empatia por cada relacionamento humano.
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